Teoria da dependência: antecedentes, premissas - Ciência - 2023


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Teoria da dependência: antecedentes, premissas - Ciência
Teoria da dependência: antecedentes, premissas - Ciência

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o teoria da dependência Baseia-se no modelo centro-periferia, que estabelece que a pobreza de certos países (os periféricos) se deve a uma posição histórica de desvantagem em relação aos países mais poderosos (os do centro), de forma que estes enriquecem às custas dos primeiros.

Durante as décadas de 50 e 60, vários cientistas sociais e intelectuais latino-americanos desenvolveram uma teoria para responder ao subdesenvolvimento que sofreu seu território.

fundo

Darwinismo social e colonialismo

Os primeiros sintomas do modelo centro-periferia no subcontinente ocorreram em meados do século XIX com a criação dos Estados-nação, por meio do chamado darwinismo social.

Esse movimento levou à promoção na América Latina dos modelos de modernização implantados na Europa, totalmente coloniais e escravistas.


No entanto, os resultados socioculturais neste território foram defeituosos, dando origem a uma modernidade parcial e subdesenvolvida em todo o subcontinente.

A grande Depressão

Em outubro de 1929, o crash da bolsa de Wall Street, conhecido como crash de 29, deu origem à grande crise do capitalismo dos anos 1930, que rapidamente se espalhou por quase todos os países do mundo. Esse período foi chamado de Grande Depressão e durou até os anos da Segunda Guerra Mundial.

Esta grande crise gerou uma série de teorias que questionavam o funcionamento clássico da economia capitalista. Isso fez com que os países latino-americanos passassem a apresentar ideias de cunho mais marxista, defendendo uma maior intervenção do Estado na economia.

CEPAL e teoria da dependência

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, as Nações Unidas criaram uma série de comissões econômicas com o objetivo de promover o crescimento e o desenvolvimento dos países menos desenvolvidos. Uma delas foi a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), criada em 1948.


A CEPAL, localizada em Santiago do Chile, começou a desenvolver estratégias seguindo a teoria clássica do desenvolvimento. No entanto, alguns economistas e sociólogos membros começaram a perceber como a América Latina tinha circunstâncias socioeconômicas que dificultavam seu desenvolvimento.

Foi em 1949 que o argentino Raúl Prebisch (membro da CEPAL) e o alemão Hans Singer publicaram dois documentos que deram origem ao que se chamaria de teoria da dependência.

Neles, seus autores começaram observando a existência de países centrais e periféricos, onde os primeiros recebem matérias-primas (bens primários) destes para a produção de bens secundários.

Essa situação, dizem eles, favorece os países do centro, que têm maiores benefícios; e prejudica os da periferia, que têm retornos muito mais baixos e piores condições de negócios (Cypher & Dietz, 2009).

A própria CEPAL acolheu a teoria, pois contava com os mais reconhecidos intelectuais latino-americanos da época. Os mais importantes do projeto, além de Prebisch, foram os brasileiros Theotonio Dos Santos, Ruy Mauro Marini e Celso Furtado, e o alemão André Gunder Frank.


Premissas básicas da teoria

Em sua forma mais extrema, a teoria da dependência tem fortes raízes marxistas. Ele vê o mundo da perspectiva da globalização como uma forma de exploração de certos países sobre outros, ricos contra pobres.

Além disso, defende um olhar “interno” para o desenvolvimento: maior atuação do Estado na economia, maiores barreiras ao comércio e nacionalização de indústrias-chave.

As premissas nas quais a teoria da dependência se baseia são as seguintes (Blomström & Ente, 1990):

  1. Existe uma desigualdade nas relações de poder, que é decisiva na deterioração das condições comerciais e consequentemente na manutenção do estado de dependência dos países periféricos.
  2. As nações periféricas fornecem às nações centrais matérias-primas, mão de obra barata e, em troca, recebem tecnologia obsoleta. Os países centrais precisam desse sistema para manter o nível de desenvolvimento e bem-estar de que desfrutam.
  3. Os países centrais têm interesse em perpetuar o estado de dependência, não só por razões econômicas, mas também políticas, midiáticas, educacionais, culturais, esportivas e qualquer outra área relacionada ao desenvolvimento.
  4. Os países centrais estão prontos para suprimir qualquer tentativa dos países periféricos de mudar este sistema, seja por meio de sanções econômicas ou pela força.

Raul Prebisch

Raúl Prebisch foi um economista argentino membro da CEPAL, conhecido sobretudo por suas contribuições ao chamado estruturalismo econômico e por sua tese Prebsich-Singer, que deu origem à teoria da dependência.

Prebisch argumentou que havia uma tendência de piora nas condições comerciais nas relações entre os países poderosos (centro) e os fracos (periféricos), beneficiando os primeiros e prejudicando os segundos.

Segundo ele, o caminho para que esses países fracos se desenvolvessem com sucesso era por meio da industrialização e da cooperação econômica entre os países do mesmo grupo periférico (Dosman, 2008).

Dessa forma, e em parte graças à sua atuação como secretário executivo da CEPAL, foram realizadas reformas nas décadas de 1950 e 1960, com foco sobretudo na Industrialização por Substituição de Importações (ISI) (CEPAL, n.d.).

André Gunder Frank

André Gunder Frank foi um economista teuto-americano, historiador e sociólogo da ideologia neomarxista. Muito influenciado pela revolução cubana, nos anos 60 liderou o ramo mais radical da teoria, juntando-se a Dos Santos e Marini, e em oposição às ideias mais "desenvolvimentistas" de outros membros como Prebisch ou Furtado.

Frank afirmou que a existência de relações de dependência entre países na economia mundial era um reflexo das relações estruturais dentro dos próprios países e comunidades (Frank, 1967).

Ele argumentou que, em geral, a pobreza é resultado da estrutura social, da exploração do trabalho, da concentração da renda e do mercado de trabalho de cada país.

O declínio da teoria da dependência

Em 1973, o Chile sofreu um golpe de estado que resultou na ruptura do pensamento da CEPAL e que fez com que o projeto perdesse influência com o tempo.

Finalmente, com a queda do Bloco Soviético nos anos 1990, os intelectuais "dependentes" que ainda viviam (Prebisch morreu em 86) tomaram rumos diferentes.

Alguns mais radicais, como Dos Santos, trabalharam desenvolvendo teorias antiglobalização, outros, como Marini, se dedicaram ao campo acadêmico, e outros, como Frank e Furtado, continuaram trabalhando em torno da política econômica mundial.

Referências

  1. Blomström, M., & Ente, B. (1990). A teoria do desenvolvimento em transição. México DF: Fundo de Cultura Econômica.
  2. CEPAL. (s.f.). www.cepal.org. Obtido em https://www.cepal.org/es/historia-de-la-cepal
  3. Cypher, J. M., & Dietz, J. L. (2009). O processo de desenvolvimento econômico. Londres e Nova York: Routledge.
  4. Dosman, E. J. (2008). A vida e os tempos de Raul Prebisch, 1901-1986. Montreal: McGill-Queen’s University Press. pp. 396–397.
  5. Frank, A. G. (1967). Capitalismo e subdesenvolvimento na América Latina. Nova York: Monthly Review Press. Obtido em Clacso.org.