Perspectivas êmicas e éticas: o que são e 6 diferenças entre elas - Psicologia - 2023

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As perspectivas êmica e ética aplicadas ao conhecimento científico têm nos permitido adquirir diferentes visões sobre os fenômenos sociais. Seus antecedentes são encontrados na linguística estruturalista, porém foram transferidos de maneira importante para a sociologia e a antropologia, uma vez que permitem a elaboração de diferentes respostas e explicações sobre o comportamento social.

De forma introdutória veremos abaixo o que é e de onde vêm as perspectivas ética e êmica, bem como algumas de suas principais diferenças.

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Da linguística ao comportamento social

Os conceitos de "ético" e "êmico" são neologismos introduzidos pela primeira vez pelo linguista norte-americano Kenneth Pike, para se referir a como o comportamento social ocorre e é compreendido. Etic corresponde ao sufixo da palavra “fonético” (que significa fonético, em inglês), e “emic” corresponde à palavra “fonêmico” (que significa fonêmico, também em inglês).


A fonética é um ramo da linguística que estuda os sons que fazemos para nos comunicar. Como conceito, refere-se aos sons da linguagem que se baseiam em uma taxonomia da fala ativa, bem como seus efeitos ambientais entendidos como ondas acústicas.

A fonêmica, por sua vez, é outro ramo da linguística e se refere à capacidade do ouvinte de não apenas ouvir, mas também de identificar e manipular fonemas (as unidades fonológicas mínimas de cada língua). Refere-se aos sons que estão na consciência implícita, ou na não consciência, e que ajudam os falantes a identificar diferentes expressões de sua própria linguagem.

Pike usa esses termos para desenvolver duas perspectivas epistemológicas que nos permitem entender o comportamento social como uma analogia das principais estruturas linguísticas. Ou seja, tenta aplicar os princípios pelos quais os linguistas descobriram fonemas, morfemas e outras unidades da linguagem, para descobrir unidades êmicas de comportamento social.


6 diferenças entre as perspectivas êmica e ética

As perspectivas ética e êmica nas ciências sociais têm sido úteis ao oferecer diferentes explicações para o que motiva o comportamento social. Em outras palavras, surgiram com o intuito de responder, por exemplo, por que certos grupos humanos se comportam de uma maneira específica, por que interagem dessa maneira ou como se organizaram de uma determinada maneira.

Em termos gerais, as respostas a essas perguntas seguiram dois caminhos. Por um lado, há quem diga que os motivos do comportamento social só podem ser compreendidos por a explicação que os próprios atores fazem sobre esses motivos. Essa seria uma postura êmica.

E por outro lado, há quem diga que os comportamentos sociais, e os seus motivos, podem ser explicados através da observação direta de alguém de fora. Essa seria uma postura ética. Segundo Pike, o uso de uma perspectiva ética e êmica pode ter consequências e um importante embasamento ético, especialmente quando as descrições são traduzidas em medidas instrumentais.


A seguir, veremos brevemente cinco diferenças relacionadas à forma como investigamos e entendemos nossas sociedades e comportamentos.

1. Relação observador-participante

Uma perspectiva êmica garante que haja um contexto de interação em que o observador e o informante se encontram e conduza uma discussão sobre um tópico específico.

Por sua vez, uma perspectiva ética define e descreve o comportamento social considerando principalmente a lógica do ator observador. A estrutura que existe além das mentes dos atores é priorizada.

2. O motivo do comportamento social

Quando questionado sobre como são eventos, entidades ou relacionamentos, uma perspectiva êmica diria que a resposta está na cabeça das pessoas que protagonizam esses eventos, entidades ou relacionamentos.

Por outro lado, quando se depara com a mesma questão, uma perspectiva ética diria que a resposta está no comportamento observável das pessoas que são os protagonistas de ditos eventos, entidades ou relações.

3. Validade do conhecimento explicativo

Emic é uma perspectiva que funciona do ponto de vista dos atores. Os acontecimentos da vida diária, costumes, hábitos, rituais, etc., não são definidos por quem os realiza, e esta é considerada a definição válida.

Como entendido em relação a significados ou estruturas não conscientes, emic é considerada uma perspectiva difícil de defender em termos de rigor científico.

A ética é uma perspectiva abordada do ponto de vista do observador. Aqui os acontecimentos culturais, costumes, hábitos, cotidiano, etc., são explicados a partir da descrição feita por quem assiste (não pela pessoa que realiza esses acontecimentos), e essa é a explicação que se considera válida.

4. Perspectivas semelhantes

Uma perspectiva êmica está mais próxima de uma perspectiva subjetivista do conhecimento, enquanto uma perspectiva ética está mais perto do paradigma objetivista do conhecimento.

5. Metodologias relacionadas

A perspectiva êmica está interessada na construção social de significados, em questionar e explorar as finalidades êmicas do comportamento. Portanto, um exemplo de metodologia são as descrições feitas a partir de entrevistas com atores sociais.

Já a perspectiva ética, que está mais interessada nas descrições do agente externo, pode realizar, por exemplo, pesquisa comparativa entre o que é observado em diferentes culturas.

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6. Eles nem sempre são tão diferentes

As perspectivas êmica e ética são abordagens que podem não coincidir, e mais: são freqüentemente entendidas e utilizadas como descrições totalmente exclusivas.

Kenneth Pike e Marvin Harris (antropólogo norte-americano que assumiu e desenvolveu as teorias de Pike) problematizaram isso e conseguiram exemplificar em quais momentos os olhares ético e êmico coincidem e em quais momentos eles se distanciam, bem como as consequências de ditas coincidências e distâncias.

Uma das coisas que as pessoas interessadas nas perspectivas êmica e ética tiveram que se perguntar foi como os sistemas de crenças mentais, a linguagem e o próprio comportamento estão conectados. Em outras palavras, também foi necessário questionar se o que dizemos sobre o que fazemos dá uma idéia fiel das razões do comportamento; ou se o que vemos que fazemos é realmente o que dá uma ideia mais próxima das razões para o mesmo comportamento.

Às vezes o que fazemos concorda com o que dizemos sobre o que fazemos, outras vezes não. E é em grande parte por isso que as perspectivas êmica e ética não podem ser nitidamente separadas, mas devem ser entendidas em relação. Se trata de abordagens que podem ser úteis e complementares para entender nosso comportamento social.