Milagre japonês: causas, características e consequências - Ciência - 2023


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Milagre japonês: causas, características e consequências - Ciência
Milagre japonês: causas, características e consequências - Ciência

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Milagre japonês é o termo usado por economistas e historiadores para designar o período de grande desenvolvimento econômico no Japão após a Segunda Guerra Mundial. As consequências da derrota japonesa e dos bombardeios americanos deixaram o país devastado e totalmente arruinado.

A esta circunstância se soma a escassez de matéria-prima, bem como as características geográficas das ilhas que compõem o Japão. Vale ressaltar que apenas 14% de sua superfície é arável.

Porém, de 1960 até os anos 1980, o país asiático experimentou taxas de crescimento econômico que o tornaram a segunda potência mundial, superado apenas pelos Estados Unidos.

Muitos especialistas afirmam que as causas desse crescimento começaram a se implantar antes da guerra, quando o Japão modernizou suas estruturas com a Revolução Meiji, mas o conflito paralisou esses avanços.


Depois da guerra, vários fatores se uniram que ajudaram o país a se recuperar e melhorar sua situação. A ajuda americana, que queria um aliado contra a China comunista, as reformas na indústria do país e uma regulamentação protecionista, foram algumas das causas e características do Milagre.

Causas

A Segunda Guerra Mundial deixou o Japão praticamente devastado. Estima-se que 40% de suas cidades foram destruídas e milhões de cidadãos morreram. Na esfera econômica, a renda per capita caiu drasticamente.

As bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki causaram a rendição imediata do Japão. Os vencedores, os Estados Unidos, assumiram o controle da situação e mudaram muito o sistema político.

Eles mantiveram a figura do Imperador, mas desprovidos do caráter divino anterior. Da mesma forma, desmilitarizaram a sociedade e passaram a democratizá-la.

O país já havia realizado uma série de reformas antes da guerra. Foi a Restauração Meiji, que produziu um crescimento de até 600% na produção industrial no final do século 19 e início do século 20.


No entanto, a recuperação após a guerra foi muito mais espetacular e os economistas começaram a chamá-la de "milagre japonês".

Ajuda americana

Os Estados Unidos, como potência vencedora da guerra, logo começaram a ajudar o Japão a se recuperar. Por um lado, estava começando a Guerra Fria e o Japão tinha uma posição privilegiada em relação à China e à União Soviética. Por outro, era um novo mercado para os produtos americanos.

Os Estados Unidos inicialmente estabeleceram metas de austeridade difíceis. Ele estava lidando com esse plano para conter a inflação. Da mesma forma, introduziu tecnologia avançada, além de capital. Finalmente, ajudo a impulsionar o comércio japonês em todo o Sudeste Asiático.

No Japão, os Estados Unidos encontraram o apoio da burguesia, ávida por ganhar poder econômico. Uma democracia liberal foi estabelecida e a base militar mais importante dos Estados Unidos, Okinawa, foi inaugurada no país.

Embora em 1951, com o Tratado de São Francisco, a ocupação americana tenha terminado oficialmente, a verdade é que ela continuou a influenciar o governo do país.


Política estadual

O novo governo japonês começou a instituir políticas para impulsionar a recuperação econômica. Apesar de o sistema a ser estabelecido ser capitalista, durante muitos anos houve um grande intervencionismo estatal que ajudou as empresas japonesas.

O estado passou a ser responsável pela política industrial, comercial e financeira, com o intuito de promover o progresso econômico.

Entre os objetivos declarados do Ministério da Economia e Indústria estava o de promover a produção em grande escala por meio da concentração econômica; a proteção do país contra a concorrência estrangeira; e promover o mercado externo.

O governo incentivou a formação de grandes grupos industriais, os chamados Keiretsu. Depois da guerra, essas corporações foram banidas, mas ressurgiram.

Na década de 1960, empresas como a Mitsubishi, Fuji ou Toyota dominaram o mercado. Para ajudar ainda mais esses grandes conglomerados, o MICE (agência responsável pela economia) os protegeu da concorrência estrangeira.

As exportações também aumentaram a partir de 1960. Seu principal mercado eram os Estados Unidos, além da Europa Ocidental. Na década de 1970, as exportações cresceram 800%. O saldo positivo da balança comercial fez com que saísse muito capital e tornasse o Japão um dos principais credores do mundo.

Cooperação de classe

Os Estados Unidos, como potência ocupante, reorganizaram o aparato estatal. Ele promulgou leis para democratizar o país, decretou uma reforma agrária e baniu o Zaibatsu.

Ao mesmo tempo, deu aos trabalhadores o direito à greve e a capacidade de se organizar. Partidos e associações de inspiração comunista começaram a agir, assumindo o controle de algumas empresas. Esta situação ia contra a política capitalista americana, por isso as autoridades declararam esta prática ilegal.

A onda de greves que se seguiu levou os americanos a iniciar o chamado "expurgo vermelho" contra sindicatos de esquerda e trabalhadores.

Já na década de 1950, movimentos trabalhistas anticomunistas foram criados no Japão. No início, houve confrontos com os empresários, embora a repressão desencadeada tenha feito com que sua luta não tenha dado em nada.

No entanto, na década de 1960, a indústria havia se expandido muito e havia escassez de mão de obra. Isso deu aos trabalhadores uma vantagem em exigir aumentos salariais e, ao mesmo tempo, fez com que as empresas começassem a automatizar fábricas.

A burguesia se recuperou e conseguiu eliminar os sindicatos mais militantes. Surgiu uma organização sindical de direita, patrocinada por empresários, que propunha a colaboração entre as classes sociais.

Caracteristicas

Uma das características que os autores mais enfatizam sobre o Milagre Japonês é a importância dos fatores socioculturais. Os japoneses aplicaram os valores xintoístas ou neoconfucionistas à sua indústria. Da mesma forma, eles tinham um grande espírito de sacrifício e davam grande importância à educação.

Novos modelos organizacionais

O milagre japonês foi, em grande medida, baseado em novos modelos de organização e operação do setor. A gestão do trabalho superou o sistema fordiano americano e foi exportada para outras partes do mundo.

A Toyota, empresa em que muitas técnicas de gestão foram aplicadas, tornou-se sinônimo de produtividade. Ferramentas como Just in Time, Kanban, Kaizen ou Quality Circles, foram baseadas em uma mistura de antigas tradições japonesas e postulados de organização científica.

Além desse novo modelo de produção, o milagre japonês introduziu conceitos como o emprego vitalício, que fortaleceu o vínculo entre o trabalhador e a empresa, ou o trabalho em equipe. Por fim, deu grande ênfase à versatilidade dos trabalhadores, sua qualificação e participação.

Limitação de matérias-primas

Um dos problemas que o setor enfrentou nas décadas de recuperação foi a limitação de matéria-prima. As ilhas não forneciam o necessário para a produção, por isso tiveram que encontrar formas de aumentar a lucratividade.

As siderúrgicas estavam localizadas perto de portos estratégicos, para economizar custos. As autoridades, por sua vez, estabeleceram acordos com diversos países.

Tratava-se de equilibrar a balança comercial por meio da entrada de capitais e da troca de produtos. Assim, 85% das exportações corresponderam a produtos manufaturados.

Concentração de negócios

Os Zaibatsus foram grupos financeiros que serviram para concentrar empresas. Depois da guerra, os americanos os baniram, pois haviam desempenhado um importante papel financeiro no conflito.

No entanto, pouco depois, eles se recuperaram novamente e se tornaram uma parte vital da recuperação.

Por outro lado, os especialistas também destacam a capacidade de poupança do cidadão como um fator importante no Milagre. Essas economias foram destinadas, em grande parte, à indústria e ao comércio, tanto interno quanto externo.

Os bancos, graças a essa quantia disponível, conseguiram conceder empréstimos a juros muito baixos, algo que as pequenas empresas utilizavam para modernizar equipamentos e para departamentos de P&D.

Consequências

Uma das figuras mais importantes do milagre japonês foi Hayato Ikeda, o primeiro-ministro do país na década de 1960. O político elaborou um programa de crescimento econômico fundamental para o sucesso japonês.

Ikeda se propôs a dobrar a renda nacional em apenas 10 anos. Na prática, ele fez isso na metade do tempo. A partir de então, o Japão cresceu a uma taxa próxima a 13/14%.

Os dados de crescimento atingiram em média 5% na década de 60, 7% na década de 70 e 8% na década de 80.

Desenvolvimento da indústria

O setor em que o milagre japonês é mais bem visto foi a indústria. Em duas décadas, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão detinha a metade da tonelagem marítima mundial, era o terceiro maior produtor de aço e veículos automotores e o segundo em eletrônicos.

Em dez anos, de 1962 a 1972, o Produto Interno Bruto passou de um quinto do dos Estados Unidos para um terço do mesmo. Seu superávit comercial quintuplicou no início da década de 70, sendo também o primeiro país na construção naval, na produção de motocicletas e televisores, e o segundo em automóveis e fibra sintética.

Outra estratégia seguida pelas empresas japonesas foi a utilização do que foi inventado em outros países. Como exemplo, a Sony usou a patente de transistores de aparelhos auditivos para construir rádios portáteis.

Por fim, destacou a grande automação da indústria, bem como o uso de Novas Tecnologias e da Robótica para alcançar melhores resultados e produtividade.

Crise modelo

O sucesso japonês sofreu um hiato a partir dos anos 90, dando início à chamada década perdida. A economia estagnou, situação que ainda persiste. O início da crise deveu-se ao estouro de uma bolha financeira e imobiliária causada por sua atuação como banqueiro global.

Da mesma forma, o envelhecimento da população e o aparecimento dos chamados "tigres asiáticos" também desaceleraram a economia do país.

Durante anos, a situação japonesa se manteve equilibrada, com números que a colocam em deflação. Até agora, as políticas governamentais não conseguiram colocar o país de volta no caminho do crescimento.

No plano social, por outro lado, o progresso não foi na mesma velocidade que na economia. As figuras de suicídio, a falta de direitos das minorias e os problemas da juventude se destacam negativamente em relação à percepção de felicidade.

Referências

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