Governo populista: o que é, variedades e exemplos - Ciência - 2023


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UMA governo populista é uma forma política que defende a importância da pessoa comum sobre as elites. Pode ser democrático ou autoritário. O termo "populismo" começou a ser usado no século 19, para se referir ao movimento narodnichestvo na Rússia e ao Partido do Povo nos Estados Unidos.

Porém, não foi até 1950 quando começou a ser usado em um sentido muito mais amplo, englobando no conceito desde os movimentos fascistas e comunistas na Europa aos movimentos anticomunistas na América e até mesmo o peronismo na Argentina.

Ao longo dos anos, o status populista foi atribuído a diferentes figuras políticas: Jacob Zuma da África do Sul; Gordon Brown, ex-primeiro-ministro da Grã-Bretanha; Mahmoud Ahmadinejad, ex-presidente do Irã; Silvio Berlusconi, ex-primeiro-ministro da Itália; Hugo Chávez, ex-presidente da Venezuela, entre outros.


Além de serem chamados de "populistas", não se pode dizer que esses líderes tenham algo em comum. Nesse sentido, a palavra "populismo" tem sido usada para categorizar realidades muito diferentes. É por isso que o termo populismo é difícil de definir.

Perspectivas para um governo populista

Apesar das dificuldades, uma conceituação sistemática do termo populismo poderia ser alcançada se três perspectivas fossem levadas em conta: o populismo como ideologia, como estilo discursivo e como estratégia política.

Populismo como ideologia

A definição de populismo como uma ideologia foi levantada por Cas Mudde em 2004 (citado por Gidron e Bonikowski). Segundo o autor, o populismo é uma ideologia vagamente centrada que separa a sociedade em dois grupos antagônicos: o povo verdadeiro e puro e a elite corrupta.

Nesse sentido, o populismo é um conjunto de ideias baseadas nas diferenças entre o povo e a elite, privilegiando o primeiro grupo por dizer que representam a pureza.


Por outro lado, ideologias pouco centradas são aquelas que não têm uma estrutura política e social bem definida e, portanto, podem ser compatíveis com outros sistemas políticos, sejam de direita ou de esquerda.

Sob essa concepção ideológica de populismo, pode-se entender por que o termo populista é usado para definir figuras políticas tão diversas.

Populismo como estilo discursivo

Essa perspectiva sugere que o populismo não é uma ideologia, mas um estilo de discurso. De La Torre (2000, citado por Gidron e Bonikowski) aponta que o populismo é uma construção retórica segundo a qual a política é uma ética e moral entre o povo e a oligarquia.

Da mesma forma, Kazin (1995, citado por Gidron e Bonikowski) afirma que populismo é a linguagem usada por aqueles que afirmam falar em nome do povo, a partir do contraste entre "nós" (o povo) e "eles" (o elite).

Populismo como estratégia política

Essa perspectiva é a mais comum entre sociólogos e cientistas políticos latino-americanos. Como estratégia política, o populismo se refere à aplicação de várias políticas econômicas, como a redistribuição de riqueza (expropriação, por exemplo) e a nacionalização de empresas.


Da mesma forma, nessa perspectiva, o populismo é uma forma de organização política, em que um líder exerce o poder com o apoio de seus seguidores, que geralmente pertencem a setores marginalizados.

Características resumidas das três perspectivas

Seguindo a classificação feita por Gidron e Bonikowski, as diferentes perspectivas do populismo são caracterizadas pelas seguintes características.

Ideologia

Com base na ideologia, o populismo é o conjunto de ideias inter-relacionadas sobre a natureza da política e da sociedade. As unidades de estudo são os partidos políticos e seus dirigentes.

Estilo discursivo

Segundo o discurso, o populismo é uma forma de expor ideias. As unidades de estudo podem ser textos, declarações e discursos públicos sobre política e sociedade.

Estratégia política

Em termos de estratégia política, o populismo é uma forma de organização. Os objetos de estudo seriam os partidos políticos (levando em consideração sua estrutura) e os movimentos sociais.

Populismo de acordo com Michel Hastings

Michel Hastings, professor universitário do Instituto de Estudos Políticos de Lille (França), propõe uma definição de populismo que mais ou menos abarca as três perspectivas estudadas anteriormente.

Segundo Hastings, o populismo é um estilo político e uma fonte de mudança que se baseia no uso sistemático da retórica para atrair as massas.

Da mesma forma, Hastings propõe duas vertentes de populismo: uma discursiva e outra institucional. Em sua forma discursiva, o populismo se caracteriza pela presença de depoimentos que expressam indignação em relação a diversos temas (racismo, elitismo, eurocentrismo, impostos, entre outros).

Em seu aspecto institucional, o populismo inclui grupos partidários que buscam traduzir essas declarações em projetos revolucionários.

Variedades de populismo

De acordo com as pessoas

Já se viu que o populismo está diretamente relacionado ao povo; As pessoas que o populismo defende podem ser variadas, dando origem a diferentes tipos de populismo:

  1. Populismo étnico
  1. Populismo cívico
  1. Populismo regional

Esses são apenas alguns dos tipos de populismo em relação ao povo.

De acordo com o programa político

Se o programa populista inclui propostas abstratas para a restauração da soberania do povo, enquanto as propostas concretas estão ausentes, ele fala de populismo teórico. Haverá populismo instrumental se acontecer o contrário.

Populismo democrático e autoritário

Em sua versão mais democrática, o populismo busca defender e aumentar os interesses dos cidadãos comuns por meio da aplicação de reformas. No entanto, hoje, o populismo é frequentemente associado ao autoritarismo.

Governos populistas autoritários tendem a girar em torno de um líder carismático que afirma representar a vontade do povo, mas que na realidade busca consolidar seu poder.

Nesse tipo de populismo, os partidos políticos perdem importância, assim como as eleições, que apenas confirmam a autoridade do líder.

Dependendo do tipo de governo, democrático ou autoritário, o populismo pode ser um promotor dos interesses dos cidadãos e do país ou pode ser um movimento que pretende defender os interesses do povo para obter o seu apoio e manter-se no comando.

Populismo exclusivo e inclusivo

O populismo exclusivo concentra-se na exclusão de grupos estigmatizados, como os pobres, os refugiados, os clandestinos ou os ciganos, entre outros.

Por outro lado, o populismo inclusivo exige que as políticas do país permitam a integração desses grupos minoritários.

Populismo de direita e esquerda

O populismo de esquerda refere-se a movimentos revolucionários socialistas focados nas virtudes das minorias (grupos indígenas e pobres, por exemplo). Esse movimento é comum na América Latina, especificamente na Venezuela, Bolívia e Equador.

O populismo de direita se refere principalmente a termos culturais, enfatizando as consequências negativas da diversidade cultural e da integração política.

Os populistas de direita veem os grupos minoritários como o bode expiatório para os problemas que o país pode estar sofrendo. Por exemplo, durante a Grande Recessão Europeia, governos populistas de direita expuseram que os imigrantes eram os culpados pela perda de empregos que milhares de europeus experimentaram.

O populismo de esquerda e de direita compartilham elementos. A linha que os separa é de fato borrada, mostrando que o populismo é mais um estilo do que uma ideologia fixa.

A única diferença tangível é que o populismo de esquerda favorece a luta de classes, como o confronto entre a classe trabalhadora e a burguesia, enquanto o populismo de direita busca dividir a sociedade, excluindo etnias e culturas diferentes.

Movimentos populistas notáveis ​​e governos

O movimento Narodnichestvo foi um dos primeiros movimentos populistas organizados da história (século 19). Foi um grupo de intelectuais socialistas e revolucionários que tentou fazer os camponeses da Rússia se levantarem na revolução; no entanto, eles não tiveram sucesso.

Nos Estados Unidos, o movimento teve início no século XIX, com a criação do Partido do Povo, em 1892. Esse movimento buscava a nacionalização das ferrovias, telégrafos e outros monopólios; Também exigiu que o governo estimulasse a economia por meio da inflação do dólar.

Ao contrário do movimento russo predecessor, algumas das propostas do Partido do Povo foram adotadas por governos posteriores.

O governo de Theodore Roosevelt, presidente dos Estados Unidos nas primeiras décadas do século 20, reviveu o populismo com a aplicação de políticas que iam contra os grandes negócios. Ele também apoiou os fazendeiros e atuou como intermediário na greve do carvão de 1902. Além disso, criou novas oportunidades de emprego.

Na América Latina, em meados do século 20, surgiram vários governos populistas, como o de Juan Perón (na Argentina) e Getúlio Vargas (no Brasil).

Outras figuras populistas do século passado foram as seguintes:

Margaret Thatcher

Ela foi primeira-ministra da Grã-Bretanha (1979-1990). Seu governo pode ser identificado com um governo populista de direita. Conhecida como a Dama de Ferro, ela foi a primeira mulher a ocupar este cargo no Reino Unido.

Saiba mais sobre esse personagem com as 90 melhores frases de Margaret Tatcher.

Woodrow wilson

Woodrow Wilson foi presidente dos Estados Unidos (1913-1921). Durante seu governo, ele favoreceu o desenvolvimento de pequenos negócios.

Juan Domingo Peron

Presidente da Argentina de 1946 a 1952, de 1952 a 1955 e de 1973 a 1974. É o único presidente da Argentina a atingir o terceiro mandato.

Getúlio Vargas

Ele atuou como Presidente do Brasil de 1930 a 1933.

Theodore Roosevelt

Presidente dos Estados Unidos da América de 1901 a 1909.

Governos populistas hoje

Hoje, os regimes populistas cresceram em importância. Um grande exemplo é o da Venezuela com o “chavismo”. Este é um movimento político iniciado pelo saudoso presidente Hugo Chávez, cuja prática foi continuada pelo atual presidente da nação, Nicolás Maduro.

Nesse sentido, Hawkins (2003, citado por Acemoglu, Egorov e Sonin) aponta que, se o populismo é definido como a presença de uma conexão carismática entre eleitores e políticos, e a presença de um discurso baseado na ideia de luta entre o povo e a elite, então o chavismo é claramente um fenômeno populista.

Os governos de Rafael Correa no Equador e Evo Morales na Bolívia são outros exemplos dos atuais governos populistas na América Latina.

Todos esses exemplos de populismo mencionados acima são da esquerda. Outros governos populistas são: o governo de Donald Trump nos Estados Unidos, um exemplo de populismo de direita, ou o governo de Rodrigo Duterte, nas Filipinas.

Pensamentos finais

O termo populismo é muito mais complicado do que pode parecer. Historicamente, tem sido usado para definir realidades muitas vezes opostas, o que saturou o termo conotações.

A mídia o usa como um termo pejorativo para se referir a partidos extremistas. No entanto, o populismo não se reduz às conotações que recebe ou a figuras políticas tachadas de populistas, pois isso é apenas parte da realidade.

Nesse sentido, o populismo deve ser estudado como um conjunto de valores, opiniões e argumentos, deixando de lado a condição extremista que habitualmente lhe é atribuída.

Da mesma forma, há muitos autores que apontam que o populismo se refere à oposição entre o povo e a elite. No entanto, nem todos aqueles que se opõem às elites são necessariamente populistas; os cidadãos têm o direito de criticar objetivamente o comportamento dos detentores do poder.

Da mesma forma, o populismo é mais do que o uso de uma retórica agressiva empregada para defender os direitos dos indivíduos comuns, uma vez que o mesmo objetivo pode ser alcançado sem recorrer a métodos virtualmente violentos.

Referências

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