"The Human Magnet Syndrome": um livro sobre atração disfuncional - Psicologia - 2023

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• Entrevista com Ross Rosenberg, psicoterapeuta, escritor e conferencista

Muitas vezes tendemos a supor que, nas relações amorosas, o cálculo racional e objetivo dos custos e os benefícios têm um papel muito importante. Que, embora seja verdade que o amor não tem sentido sem emoções, sempre existe a capacidade de assumir o controle da situação e agir de acordo com o que é mais saudável para nós.

Certamente, em muitos casos, isso geralmente é verdade, mas é muito importante observar que nem sempre é esse o caso. Muitas pessoas estão totalmente envolvidas em relacionamentos amorosos disfuncionais dos quais não conseguem se livrar e cujas desvantagens e aspectos negativos óbvios não são capazes de perceber. Na verdade, a propensão a cair nesses tipos de dinâmicas relacionais prejudiciais é regulada, em grande parte, pelo estilo de personalidade de cada um.

"A síndrome do ímã humano: por que amamos aqueles que nos machucam", de Ross Rosenberg, é um livro que explica exatamente por que sentir a dor de um relacionamento amoroso nem sempre leva ao afastamento ou ao rompimento, e como, apesar da influência do contexto e o ambiente cultural, o encaixe entre dois tipos específicos de personalidade pode alimentar o surgimento desses problemas.

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Entrevista com Ross Rosenberg, psicoterapeuta, escritor e conferencista

Ross Rosenberg é conhecido por milhares de pessoas, tanto por seus vídeos publicados no YouTube (plataforma na qual tem mais de 75 mil assinantes), quanto por seu livro “The Human Magnet Syndrome”. Este último é uma obra que ele já vendeu mais de 65.0000 exemplares e foi traduzido para vários idiomas, incluindo espanhol.

Desta vez, entrevistamos esse autor interessante para explicar mais sobre o livro, as idéias que ele expõe sobre o amor e fenômenos psicológicos relacionados, como a solidão e a personalidade.

Muito é dito no livro sobre o vínculo que tende a manter juntos narcisistas patológicos e co-dependentes. Como você resumiria o jeito de ser de cada um desses dois perfis?

Codependência é um relacionamento e uma condição individual que só pode ser resolvida pelo próprio codependente. Muitos co-dependentes são atraídos e têm relacionamentos duradouros e resistentes ao rompimento com narcisistas patológicos. A maioria dos co-dependentes são pessoas que consideram e respeitam as necessidades e desejos dos outros, acima dos seus próprios. Eles são pessoas patologicamente bondosas, responsáveis ​​e abnegadas, cujo altruísmo e boas ações raramente são recompensados.

Enquanto alguns co-dependentes se resignam a ter esse papel aparentemente permanente, outros tentam mudá-lo, embora sem sucesso. Essas pessoas se concentram nas oportunidades de evitar, mudar e / ou controlar seus parceiros narcisistas. Apesar da desigualdade nas relações e do consequente sofrimento, eles não as acabam. A codependência não se limita apenas aos parceiros românticos, uma vez que se manifesta, em vários graus, na maioria das outras relações interpessoais.

Embora narcisismo patológico não seja um termo novo, uso-o neste livro para representar uma pessoa com um dos quatro transtornos a seguir. Narcisistas patológicos são pessoas que atendem aos critérios diagnósticos de: Transtorno da Personalidade Narcisista (NPD), Transtorno da Personalidade Borderline (DBP), Transtorno da Personalidade Anti-Social (APD) e / ou viciados. Apesar das muitas diferenças entre esses quatro distúrbios, todos eles compartilham personalidade narcisista, pensamento e características emocionais.

Em vários graus, todos os narcisistas patológicos são egoístas, exigentes e controladores. São pessoas exploradoras que raramente ou seletivamente retribuem algum tipo de generosidade. Os narcisistas patológicos são apenas empáticos ou sensíveis aos outros, quando isso lhes dá uma recompensa tangível e / ou quando os faz sentir-se valorizados, importantes e apreciados. Como os narcisistas são profundamente afetados, mas não têm consciência de sua vergonha e solidão pessoais, eles também não encerram seus relacionamentos.

Embora os adictos ativos sejam listados como um dos quatro transtornos do narcisismo patológico, seu narcisismo pode ser específico do vício. Em outras palavras, quando eles estão sóbrios e se recuperando, seu verdadeiro tipo de personalidade virá à tona, o que pode ser qualquer possibilidade.

Como os narcisistas patológicos e co-dependentes costumam se comportar na terapia?

O grau de trauma de apego é preditivo do tipo de psicopatologia adulta. A criança com trauma de apego profundo que é privada de força emocional positiva provavelmente se tornará um adulto com um dos transtornos de personalidade narcisistas patológicos (TNP, Borderline ou TAP). A extrema vergonha que acompanha qualquer um desses transtornos exige que a criança se dissocie emocionalmente, esqueça e / ou não pense sobre isso (trauma do apego). A memória do trauma seria um colapso da proteção psicológica que o cérebro construiu para a autopreservação. A maneira como o cérebro se defendeu contra o trauma do apego vai inibir sua capacidade de compreender, reconhecer e se sentir mal (empatia) pelo dano causado aos outros. Portanto, os narcisistas patológicos adultos tendem a evitar a psicoterapia ou não são bons candidatos para ela.

Esse narcisista patológico, como cliente de psicoterapia, culpará os outros por seus problemas. Se forem forçados ou forçados a frequentar alguma forma de terapia, sua participação dependerá de não sofrerem uma ferida narcísica. Em outras palavras, eles podem procurar a psicoterapia e / ou dar continuidade a ela, desde que não sejam culpados ou responsabilizados pelos danos que causam aos outros, o que ativaria inconscientemente sua vergonha interna. Para os narcisistas, os resultados positivos de qualquer tratamento são raros.

Por outro lado, o adulto codependente era aquela criança capaz de fazer seu pai narcisista se sentir bem em criá-lo, então ele terá experimentado uma versão mais branda do trauma do apego. Sua capacidade de adaptação ao narcisismo patológico de seus pais fará dele o "filho troféu" sujeito a muito menos danos psicológicos (traumas). Essas crianças não precisarão de defesas psicológicas dissociativas. Eles se tornarão adultos co-dependentes, que não apenas se lembrarão de seu trauma de apego, mas serão capazes de aceitar e lidar com sua própria vergonha. Esse tipo de pessoa é capaz de reconhecer seus erros, sentir-se mal por eles (ter empatia) e ter recursos psicológicos internos para resolvê-los com o auxílio de um psicoterapeuta.

Entre as páginas deste trabalho é feita uma comparação entre o fenômeno da co-dependência e o alcoolismo. Em que aspectos da vida cotidiana essas semelhanças são expressas?

Uma explicação básica de por que os co-dependentes muitas vezes carecem de força emocional para romper com seus parceiros narcisistas para sempre é o que chamo de "vício em co-dependência". Como viciados que são quimicamente dependentes, os codependentes procuram compulsivamente a companhia de um parceiro romântico para aplacar a intensa dor emocional que os atormentou por toda a vida. Quando os co-dependentes encontram o narcisista pela primeira vez, eles experimentam limerência, uma onda de intenso prazer e euforia, que imediatamente entorpece sua batalha contra a vergonha e a solidão. Codependentes são propensos a esse vício, pois é sua droga de escolha.

Embora essa euforia seja indescritivelmente agradável no início, não pode ser sustentada por muito tempo. Após exposição prolongada a esta "droga", desenvolve-se uma tolerância. Desse ponto em diante, mais da droga é necessária para fornecer a mesma quantidade de euforia. Isso se assemelha ao momento em que o relacionamento com o narcisista começa a se transformar em conflito, consternação e decepção. Como outros vícios de drogas, há uma transição para um momento em que a droga não é mais tomada pela simples experiência de euforia, mas para eliminar a dor sentida quando ela passa.

Apesar das consequências crescentes, o "viciado" co-dependente não ousa parar de tomar a droga, pois isso desencadearia seu principal sintoma de abstinência: a solidão patológica.A maioria dos co-dependentes descreve isso como a mais dolorosa de todas as emoções. O intenso sofrimento que causa, como outros sintomas de abstinência, cria desejos irracionais de se reconectar com o narcisista, sua principal droga de escolha. Apesar das promessas quebradas, bem como dos danos e abusos sofridos, eles retornam voluntariamente ao que sabiam ser intolerável. Se a relação for irreconciliável ou muito arriscada para retornar, o codependente procura outras possíveis "fontes de drogas". Portanto, para um co-dependente, é necessário enfrentar o vício; porque se não for abordado, há uma grande probabilidade de recaída.

Em suma, como se cria esse tipo de união romântica disfuncional entre esses dois perfis, o narcisista e o co-dependente?

Por meio do uso de metáforas e analogias, meu ensaio "Codependente, não dance" explica por que opostos, co-dependentes e narcisistas patológicos se atraem:

Pode-se dizer que para que ocorra a “dança da co-dependência”, é necessária a participação de duas pessoas: o narcisista que assume o controle e o co-dependente que acomoda o parceiro de dança. Esses dançarinos co-dependentes e narcisistas são opostos, mas eles estão em sincronia e se encaixam perfeitamente. O co-dependente é incapaz de se desconectar emocionalmente do outro, e é consumido ao atender aos desejos dos outros, enquanto a parte egoísta, egocêntrica e controladora do parceiro de dança vê seu papel de dominação reforçado e tende a continuar com essa dinâmica relacional.

O que torna tão difícil que, apesar do fato de que relacionamentos românticos disfuncionais (narcisistas - codependentes) causam desconforto em termos objetivos, é tão difícil que ocorra uma separação?

Nos relacionamentos baseados na Síndrome do Ímã Humano, rompimentos até o fim não são comuns, devido à solidão patológica de ambas as partes. Como tanto o co-dependente quanto o narcisista patológico são oprimidos por sua própria vergonha, eles precisam estar em um relacionamento em que essa vergonha não surja. Para o co-dependente, isso vem na forma de solidão patológica consciente - o principal sintoma de abstinência do vício em co-dependência. A solidão do co-dependente os lembra de sua vergonha, que é essencialmente a crença de que são pessoas fundamentalmente prejudicadas.

A experiência narcísica da solidão patológica difere porque não emana de dentro. Sua solidão é causada por outra pessoa, que merece ser punida e / ou manipulada em seu papel de cuidadora, sacrificadora e amante invisível. Se o relacionamento for rompido e ambos os indivíduos não tiverem feito um progresso significativo no tratamento de saúde mental, eles serão vítimas das forças da Síndrome do Ímã Humano. Eles vão se apaixonar por outra "dançarina" que inicialmente se sente como uma "alma gêmea", mas que logo se tornará sua "companheira de cela".

A Síndrome do Magneto Humano descreveria um fenômeno pelo qual um casal tende a permanecer junto por motivos que escapam à análise racional da situação que está sendo vivida, devido a vieses. Devemos nos esforçar para promover a lógica e a racionalidade nos relacionamentos, ou seria melhor aceitar que nunca podemos analisar friamente esses laços afetivos e nos dedicar a combater apenas os vieses mais danosos e destrutivos?

Lógica e pensamento racional não são páreo para a síndrome do ímã humano. A causa disso é baseada na estratificação hierárquica do trauma do apego, o núcleo da vergonha, a solidão patológica, o vício em co-dependência e, finalmente, o problema conhecido como "co-dependência". Este gráfico mostra isso.

Uma vez que o trauma de apego é inconscientemente armazenado em uma parte do cérebro que o pensamento consciente não tem acesso (o sistema límbico, ou especificamente, a amígdala), a única maneira de curar a co-dependência é acessar essas memórias traumáticas e integrá-las à experiência consciente . Com tal integração, lógica, educação e outros processos cognitivos racionais são extremamente importantes para o tratamento da codependência. Na verdade, eles estão listados especificamente em meu Programa de Tratamento de 10 Estágios para o Transtorno de Déficit de Amor Próprio (codependência). Todos os estágios, especialmente 1 - 4, requerem análise racional.

Outra forma de ilustrar a inutilidade da análise racional é o conceito de "dependência da co-dependência". Todos os vícios, especialmente este, são movidos por um desejo insaciável e compulsão de procurar uma "droga" específica que se acredita ser a resposta para todos os problemas, mas é previsivelmente uma força destrutiva que mina tudo o que a pessoa valoriza e valoriza ama.

O livro fala sobre a Teoria do Continuum do Eu, que atua como o alicerce teórico e conceitual da Síndrome do Ímã Humano. No entanto, essa teoria explica um fenômeno que ocorre em todos os relacionamentos, não apenas naqueles com narcisistas e co-dependentes: nos sentimos atraídos por pessoas que são muito diferentes de nós em certos aspectos. Como esse interesse pelo oposto de nós se manifesta?

Como descrevi anteriormente, o interesse em amantes "opostos" não é consciente. O único elemento que é consciente é o sentimento da química, que é experimentado como romance e felicidade perfeitos. Em meio a essa experiência de "amor verdadeiro" ou "almas gêmeas", os dois amantes se sentem mais semelhantes do que diferentes. A cessação temporária da severa solidão patológica e o cerne da vergonha resultam em emoções de intensa alegria e otimismo (limerência) e na crença de que são amantes perfeitamente combinados e que foram feitos um para o outro. O pensamento consciente não pode competir com a força inconsciente e onipotente da Síndrome do Ímã Humano.

Esse interesse inconsciente é o emparelhamento de modelos de relacionamento, que são o resultado direto de suas experiências de trauma de apego e de como cada um deles o enfrentou. O modelo de relacionamento é um manual de instruções que inconscientemente orienta todas as pessoas, saudáveis ​​ou não, na escolha de seus parceiros românticos. Especifique e instrua o comportamento relacional por meio de padrões e funções. Também representa os processos inconscientes responsáveis ​​pelo emparelhamento de "personalidades opostas", juntamente com o conforto e a facilidade do parceiro de dança. Quando esses processos psicológicos e relacionais se combinam, os amantes acreditam (e sentem) que finalmente alcançaram um santuário, onde a solidão e o cerne da vergonha básica não estão mais em seus calcanhares.

De acordo com a maioria dos profissionais de saúde mental orientados para o desenvolvimento e a psicodinâmica, as pessoas tendem a reproduzir as experiências pais-filhos da infância em seus relacionamentos adultos. Basta dizer que o apego da infância cria um manual de instruções para todos os relacionamentos futuros. É o diretor das preferências interpessoais, conscientes e inconscientes, também conhecidas como instintos nos relacionamentos. Ensine às pessoas as várias "regras" para seus relacionamentos.

O modelo de relacionamento o força inconscientemente a gravitar em torno de uma pessoa atraente e aparentemente confiante. Em termos psicodinâmicos, a energia emocional da criança interior traumatizada, que é reprimida ou bloqueada na memória, direciona o processo de atração e namoro. A "criança traumatizada" se comunica claramente com seu eu adulto por meio do que as pessoas chamam de "intuição" e respostas somáticas reflexivas (corporais). Um exemplo de mensagens somáticas positivas seria "borboletas" no estômago. Os negativos podem ser náuseas ou dores nas costas.

Quando na companhia de um interesse romântico que tem um modelo de relacionamento compatível, as pessoas experimentam instintivamente uma sensação de familiaridade e segurança. Infelizmente, nada poderia estar mais longe da verdade. Os padrões de atração de uma pessoa são dirigidos, quase exclusivamente, pelo modelo de relacionamento de uma pessoa: a Síndrome do Ímã Humano.

Qualquer co-dependente, inclusive eu, pode atestar essa conclusão. Eu era um psicoterapeuta que afirmava ser inteligente, educado e bom em seu trabalho, mas por duas vezes foi vítima de esposas narcisistas patológicas. Apesar das terríveis consequências e da humilhação que sofri ao escolher minha primeira esposa, cometi o mesmo erro com meu segundo casamento.

Finalmente, que tipo de leitor você acha que vai gostar especialmente deste livro?

Meu livro foi escrito para o público em geral e para profissionais. Durante os seis anos que apresentei o material da Síndrome do Magneto Humano (mais de 100 vezes), meu estilo de apresentação se tornou progressivamente mais neutro (agradável e compreensível para ambos os grupos). O caso mais comum e previsível é ter pelo menos 25% dos membros da minha audiência profissional em prantos. Os profissionais não se incomodam com o meu uso de terminologia mais simples, pois eles se beneficiam do material tanto pessoal quanto profissionalmente. De acordo com evidências anedóticas, pelo menos metade dos 60.000 livros sobre a síndrome do ímã humano vendidos em inglês foram comprados devido à recomendação de um psicoterapeuta.

Considerando que a maioria dos psicoterapeutas começou suas carreiras como co-dependentes, este livro faz todo o sentido para eles. Sei disso pelos 80 seminários que dei sobre o assunto, as 600 resenhas de meus livros e as dezenas de milhares de comentários em meus vídeos no YouTube.