Neoliberalismo: história, características, consequências, representantes - Ciência - 2023


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Neoliberalismo: história, características, consequências, representantes - Ciência
Neoliberalismo: história, características, consequências, representantes - Ciência

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o neoliberalismo O modelo neoliberal é uma doutrina econômica e política que defende o livre mercado absoluto, sem qualquer intervenção estatal em seu funcionamento. É uma evolução do liberalismo clássico dos séculos XVIII e XIX, embora afirme que as regulamentações são ainda menores do que as propostas por autores como Adam Smith.

A Grande Depressão de 1929 fez com que o liberalismo perdesse prestígio. As políticas keynesianas utilizadas para superar esta crise obrigaram o Estado a intervir na economia, ao mesmo tempo que defendia o livre comércio. Além disso, o medo de que as ideias comunistas se propagassem levou os países ocidentais a criar estados de bem-estar com medidas sociais estatais.

A mudança de paradigma começou nas décadas de 60 e 70 do século XX. Uma geração de economistas reformulou a teoria liberal para eliminar totalmente o envolvimento do Estado na economia. Um dos primeiros locais onde seus princípios foram implementados foi no Chile, durante a ditadura de Pinochet.


O neoliberalismo se estabeleceu como o sistema econômico predominante no início da década de 1980 do século XX. A avaliação de seus resultados varia enormemente dependendo da ideologia dos especialistas. Por um lado, assinala-se que a economia melhora significativamente, mas, por outro lado, assinala-se que beneficia apenas alguns e que provoca um grande aumento da desigualdade.

Origem, estabelecimento e história

O neoliberalismo compartilha muitas das doutrinas econômicas e sociais do chamado liberalismo clássico do século XIX. No entanto, diferenças importantes também podem ser encontradas.

A origem do termo neoliberalismo remonta à década de 30 do século XX, num contexto em que as consequências da crise de 29 ainda se faziam sentir. O liberalismo foi apontado como um dos culpados da Grande Depressão, e alguns autores europeus tentaram desenvolver uma teoria econômica que corrigisse algumas de suas falhas.

O autor do termo neoliberalismo foi Alexander Rüstow, em 1938. No entanto, sua definição na época era muito diferente da atual. Na época, Rüstow e outros estudiosos procuravam um terceiro sistema entre o liberalismo clássico e o socialismo.


Desta forma, o neoliberalismo teve que se traduzir na implementação de um sistema de livre empresa e comércio, mas com um Estado forte que controlava os excessos.

Sociedade Mont Pelerin

A mudança na concepção do neoliberalismo ocorreu na década de 1940, com a publicação do O Caminho da Servidãopor Friedrich Von Hayek. Sete anos depois, o próprio Hayek convocou uma reunião na Suíça da qual compareceram outros pensadores como Karl Pepper e Von Mises.

O resultado desta reunião foi a fundação da Sociedade Mont Pelerin. Isso foi estabelecido como um objetivo para desenvolver uma nova teoria dentro do liberalismo que defendia a eliminação de qualquer interferência do Estado.

O contexto em que se deu a reformulação do neoliberalismo foi a Europa do pós-guerra, após a Segunda Guerra Mundial. A grande maioria dos países do continente estava criando o chamado estado de bem-estar, com o intuito de melhorar o padrão de vida de seus cidadãos e fornecer-lhes uma série de serviços básicos.


A educação, a saúde ou o sistema previdenciário foram implantados em quase todo o Ocidente, sem os desastres que Hayek previra em seu trabalho. Por isso, as ideias do neoliberalismo não foram levadas em conta por muito tempo, inclusive em alguns centros acadêmicos.

Décadas dos anos 60 e 70

Os especialistas dizem que o primeiro país a implementar as ideias neoliberais foi a Alemanha Ocidental em 1966. Apesar de ter obtido algum sucesso em ajudar a reconstruir o país, a experiência não durou muito.

O neoliberalismo ressurgiu em 1974, no Chile. Depois do golpe que levou Augusto Pinochet ao poder, o país passava por uma grave crise econômica. Para superá-lo, o novo governo buscou a ajuda da chamada Escola de Chicago, grupo de economistas chefiado por Milton Friedman.

As medidas implementadas no Chile seguiram totalmente as ideias neoliberais. As empresas públicas foram privatizadas e o setor privado ganhou a primazia.

Margaret Thatcher e Ronald Reagan

O impulso às políticas neoliberais de Margaret Thatcher, primeira-ministra britânica, e de Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos, foi essencial para que o neoliberalismo se espalhasse por todo o planeta.

Thatcher chegou ao poder em 1979 e Reagan em 1980. De seus cargos de governo, eles exerceram grande controle sobre as políticas do FMI e do Banco Mundial, o que os ajudou a impor uma série de reformas estruturais aos demais países. Nesse sentido, um dos primeiros países afetados foi o México.

A conseqüência geral foi um aumento na acumulação de riquezas por parte das elites dos países industrializados. Além disso, a economia especulativa cresceu em relação à produtiva.

As políticas de Thatcher na Grã-Bretanha se concentraram, primeiro, em arrancar o poder dos sindicatos, especialmente dos mineiros. O primeiro-ministro privatizou um grande número de empresas públicas e desregulamentou muitas atividades econômicas. Os resultados foram a desindustrialização do país, a melhoria dos indicadores macroeconômicos e o aumento da desigualdade.

Thatcher conseguiu impor a ideia de que não havia alternativa possível ao neoliberalismo, que batizou com a sigla TINA (Não há alternativa).

Ronald Reagan, por sua vez, também desenvolveu uma política econômica neoliberal. Entre suas medidas estão a redução de impostos e a desregulamentação financeira. No entanto, o déficit fiscal não parou de crescer.

Presente

O termo neoliberalismo adquiriu conotação negativa nas últimas décadas. Além disso, a prática demonstrou a dificuldade de aplicar todas as suas ideias e a existência de resultados adversos para grande parte da população.

Por esse motivo, a maioria dos governos optou por promover uma ampla liberdade de mercado, mas sem eliminar a intervenção do Estado no que diz respeito à correção de excessos e deficiências.

Muitos especialistas culparam as políticas neoliberais pela eclosão da última grande crise econômica, entre 2007 e 2008. A desregulamentação das finanças, o compromisso com a economia especulativa e a tendência de provocar bolhas, características do neoliberalismo, são algumas das os motivos da referida acusação.

Características do neoliberalismo

Embora a definição do termo tenha mudado ao longo do tempo e, hoje, existam várias correntes, algumas características gerais do neoliberalismo que todos os seus seguidores compartilham podem ser listadas.

Mercado livre

A primeira característica do neoliberalismo é a defesa do livre mercado. Seus seguidores argumentam que é a melhor maneira de alocar recursos.

Os neoliberais argumentam que os preços não devem ser regulados de forma alguma, mas devem ser fixados de acordo com a oferta e a demanda. A falta de intervenção estatal deve ocorrer tanto no mercado nacional quanto no internacional, por isso são contrários ao estabelecimento de tarifas sobre as importações.

Privatização

Para os economistas neoliberais, o setor privado é o único que deve ter presença na economia. Isso implica a privatização de todas as empresas públicas, incluindo saúde, bancos e serviços básicos (eletricidade, gás ou água). Existe até uma corrente que defende a privatização da educação.

Os adversários dessa ideologia apontam que sempre deve haver alguns setores nas mãos do Estado. Além disso, a privatização total faz com que o capital se concentre em uma elite e supõe um aumento nos preços dos serviços. Os mais ricos terão acesso a um sistema de saúde ou educação muito melhor do que o resto da população.

Desregulamentação

Segundo essa doutrina, os governos não devem estabelecer nenhum tipo de regulamentação que afete as atividades econômicas. Para eles, a liberdade total de comércio melhora o investimento.

Essa desregulamentação inclui a redução quase total dos impostos, além de outras medidas que podem interferir na oferta e na demanda.

Os críticos, por sua vez, argumentam que a falta de regulamentação causa uma total falta de proteção aos trabalhadores.

Redução de impostos

Conforme observado acima, o neoliberalismo defende que os impostos sobre as atividades econômicas sejam os mais baixos possíveis.

A principal consequência é a redução dos recursos do Estado e, portanto, que os programas sociais diminuam. Os neoliberais, porém, não consideram isso um problema, pois argumentam que o gasto público é mínimo.

Responsabilidade individual

A filosofia na qual o neoliberalismo se baseia defende a igualdade legal entre todos os indivíduos. Além da lei, os neoliberais afirmam que cada pessoa tem capacidades diferentes, que deveriam ser recompensadas de forma diferenciada de acordo com sua produtividade.

Dessa forma, os neoliberais colocam toda a responsabilidade no indivíduo. No caso de não ser possível oferecer um bom atendimento de saúde, por exemplo, será culpa de sua baixa capacidade de ganhar dinheiro, sem que o estado tenha que fazer nada para fornecê-lo.

Consequências

A identificação do neoliberalismo com um setor da direita política faz com que a análise das consequências dependa, muitas vezes, da orientação ideológica de cada especialista.

Redução dos direitos dos trabalhadores

A extrema liberalização econômica que essa doutrina busca é acompanhada por uma flexibilidade salarial muito maior. Isso tende a resultar em salários mais baixos, redução do emprego público e menos medidas de proteção ao desemprego. Os trabalhadores perdem boa parte de seus direitos em caso de possível demissão.

Eliminação da saúde pública

A saúde costuma ser um dos setores que os neoliberais procuram privatizar. Segundo ele, o setor privado administra melhor todos os serviços de saúde, além da privatização economizando o orçamento do Estado.

Do lado negativo, a privatização da saúde deixa muitos cidadãos desprotegidos que não podem pagar pela assistência privada.

Expansão do comércio global

Nas últimas décadas, o neoliberalismo esteve intimamente ligado à globalização. As diferentes organizações internacionais tentaram eliminar tarifas para impulsionar o comércio internacional.

Essa expansão do comércio fez com que muitos trabalhadores nos países em desenvolvimento pudessem melhorar suas condições de vida. Muitas indústrias mudaram suas fábricas para países com salários mais baixos, o que levou a um aumento do desemprego em certas partes das nações desenvolvidas.

Crescimento da economia financeira versus economia produtiva

Embora não seja apenas devido à introdução do neoliberalismo, os especialistas afirmam que houve um grande aumento da economia financeira em relação à produtiva.

É um crescimento econômico que não se baseia na produção de produtos, mas na venda e compra de produtos financeiros complexos. Um dos gatilhos da última crise foi justamente um desses produtos: as hipotecas subprime.

Desigualdade

Em linhas gerais, a implementação de medidas neoliberais levou a uma melhora nos dados macroeconômicos do país em questão. Com isso, aspectos como déficit ou produtividade cresceram, assim como o número de funcionários.

No entanto, isso foi acompanhado por um grande aumento da desigualdade. Os ricos tendem a melhorar sua situação, enquanto os trabalhadores perdem poder de compra. Nos últimos anos, uma nova classe social emergiu: aqueles que não (ou estreitamente) não cruzam a linha da pobreza, apesar de terem um emprego de tempo integral.

Vantagem

Maior crescimento do mercado

Uma das vantagens do neoliberalismo é que causa grande crescimento do mercado. Ao remover regulamentações e restrições, as empresas podem estender suas redes de negócios ao redor do mundo e atingir mais consumidores.

Além disso, como também não existe um tipo de controle de preços, os lucros serão determinados apenas pela demanda e oferta de cada produto.

Maior competição

A competição entre empresas também se beneficiará com a aplicação de medidas neoliberais.Isso, em princípio, deveria trazer vantagens para os consumidores, pois os produtores terão que se esforçar para melhorar a qualidade e os preços para prevalecer sobre a concorrência.

Melhorar os dados macroeconômicos

A experiência em países que aplicaram receitas neoliberais mostra que alguns indicadores econômicos tendem a melhorar. São, em geral, aqueles relacionados à macroeconomia, como o Produto Interno Bruto, saldos fiscais ou dados de emprego.

No entanto, o comportamento da microeconomia, que mais atinge os cidadãos, não é tão positivo: os salários são reduzidos, as desigualdades aumentam e os programas sociais que ajudam os mais desfavorecidos são eliminados.

Desvantagens

Crise social

Uma das desvantagens mais importantes do neoliberalismo é o risco de crises sociais.

Esse tipo de política econômica costuma acabar gerando bolhas que, quando explodem, geram graves crises econômicas. A agitação social está aumentando e, como muitos estudiosos apontam, pode gerar desequilíbrios sociais significativos. Um dos riscos é o surgimento de grupos políticos populistas que chegam ao poder devido ao descontentamento da população.

Concentração de riqueza

Uma das acusações mais frequentes que os críticos fazem do neoliberalismo é que ele aumenta a concentração da riqueza em poucas mãos. Além disso, em muitas ocasiões, aqueles que mais se beneficiam não estão relacionados à economia produtiva, mas sim à financeira e especulativa.

A conseqüência direta dessa concentração de riqueza é o aumento da desigualdade. Em alguns casos, a privatização dos serviços de saúde e educação agrava esse problema.

Criação de monopólios

Embora o neoliberalismo seja contra a formação de monopólios, a realidade é que suas medidas favorecem sua criação.

Isso, que já acontecia com o liberalismo clássico, se deve ao fato de o poder econômico estar concentrado em um pequeno grupo que, para aumentar seus lucros, acaba fechando acordos e formando monopólios.

Essa circunstância prejudica não só a população, mas também as pequenas empresas, incapazes de competir com esses grandes conglomerados.

Questões ambientais e de direitos

O poder econômico acumulado pelas elites empresariais permite que pressionem os governos a legislar em seu favor. A principal consequência é a redução dos direitos dos trabalhadores, uma vez que os neoliberais consideram que não deveria haver marcos regulatórios gerais.

Por outro lado, nos últimos tempos, a preocupação com o meio ambiente tornou-se mais aguda. A falta de regulamentação que o neoliberalismo defende impede qualquer controle dos danos causados ​​à natureza.

Representantes do neoliberalismo suas ideias

Friedrich Von Hayek (1899-1992)

O economista e filósofo austríaco é considerado um dos pais do neoliberalismo. Seu livro O caminho da servidão Ele contém as principais bases dessa corrente e fez dele a figura principal da escola austríaca.

Em seu trabalho, Hayek era totalmente contra o Estado ter qualquer participação na economia. Para ele, o mercado tinha que se regular. Caso contrário, a liberdade econômica e política estaria ameaçada.

Milton Friedman (1912-2006)

Milton Friedman foi um economista americano que recebeu o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 1976. Sua principal contribuição foi a teoria monetária.

Segundo seu trabalho, o mercado livre é a única forma de fazer a economia crescer de forma estável, sem inflação. Para o autor, as forças de mercado são mais eficientes do que qualquer participação pública.

Wilhelm Röpke (1899-1966)

Este economista e sociólogo alemão foi um dos componentes da Sociedade Mont Pelerin. Sua influência na política econômica da Alemanha Ocidental deu-lhe grande prestígio.

Apesar de sua obra se enquadrar no neoliberalismo, Röpke admitiu alguma participação do Estado. Suas teorias, assim, foram utilizadas para desenvolver a chamada economia social de mercado, além de ser uma das intelectuais que promoveram o chamado "milagre alemão".

Ludwig von Mises (1881-1973)

Von Mises foi outro dos teóricos mais importantes do neoliberalismo durante o século XX. Suas teorias foram enquadradas no movimento liberal-libertário, que defendia o mercado livre. Como Hayek, ele pertencia à Escola Austríaca.

Este autor afirmava que qualquer intervenção governamental na economia era prejudicial. Sua teoria apontava que, se tal intervenção ocorresse, o resultado não seria natural e geraria um caos de longo prazo.

Referências

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