Guerra Cristero: causas, desenvolvimento e consequências - Ciência - 2023


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Guerra Cristero: causas, desenvolvimento e consequências - Ciência
Guerra Cristero: causas, desenvolvimento e consequências - Ciência

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o Guerra Cristero, também chamada de Cristiada ou Guerra de los Cristeros, foi um confronto armado que ocorreu entre 1926 e 1929 no México. Este conflito enfrentou o governo e milícias compostas de religiosos, padres e leigos católicos. O principal motivo foi a promulgação da Lei Calles, que limitava o culto católico no país.

A Igreja Católica sempre gozou de grande poder no México, mesmo antes da independência. Já no século XIX, vários governos tentaram limitar a sua influência, embora durante o Porfiriato tenha voltado a recuperar parte dos seus privilégios.

Após a Revolução Mexicana, o governo Carranza promulgou a Constituição de 1917, que continha medidas que limitavam o poder eclesiástico. No entanto, a maior parte do que foi estabelecido no texto constitucional não foi plenamente aplicada até a presidência de Plutarco Elías Calles.


A Lei Calles fez com que muitos grupos de católicos pegassem em armas. As insurreições ocorreram em vários estados e o governo respondeu enviando o exército. Depois de quase três anos de conflito, a chegada à presidência de Emilio Portes Gil e a mediação do embaixador dos Estados Unidos permitiram negociar o fim da guerra.

fundo

Desde antes da independência, a Igreja Católica Mexicana teve grande poder político, econômico e social. Nas diferentes lutas ocorridas, a instituição sempre se posicionou junto aos conservadores e às classes altas.

Leis de reforma

A chegada à presidência de Juan Álvarez Hurtado, em 1855, significou a ascensão ao poder de uma corrente liberal. O novo presidente sempre foi contra a mentalidade conservadora, então associada à Igreja.

Álvarez tentou mudar as leis para tornar o México um país mais secular e eliminar alguns dos privilégios da Igreja. Ele, Ignacio Comonfort e Benito Juárez, seus sucessores no cargo, promulgaram as chamadas Leis da Reforma, com as quais se efetivou a separação entre Igreja e Estado.


Essas leis causaram rejeição por parte da sociedade, a ponto de serem a principal causa da chamada Guerra da Reforma. O então presidente, Benito Juárez, teve que enfrentar esse conflito e, posteriormente, a Segunda Intervenção Francesa.

Posteriormente, durante o governo de Sebastián Lerdo de Tejada em 1874, as Leis da Reforma foram incorporadas à constituição atual.

Porfirio Diaz

O Porfiriato, período da história do México durante o qual governou Porfirio Díaz, foi muito positivo para os interesses da Igreja. Veio organizar o que se chamou de "segunda evangelização" e fundar diversos movimentos sociais.


Constituição de 1917

Após a Revolução Mexicana, muitos de seus líderes viram a Igreja Católica como uma força conservadora e partidária das classes altas. Por esta razão, a Constituição de 1917 incluiu vários artigos destinados a restringir seu poder.

Entre esses artigos estava o que exigia que a educação fosse laica e não controlada pela Igreja. Da mesma forma, o número cinco proibiu as ordens monásticas, enquanto o número 24 fez o mesmo com o culto público fora das igrejas.

Por último, o artigo 27 limitou os direitos de propriedade das organizações religiosas e o artigo 130 retirou aos membros do clero alguns direitos, como votar ou participar na vida pública.

A princípio, os católicos responderam com uma campanha pacífica para tentar modificar essas medidas.

Alvaro Obregon

A década de 20 do século XX começa com um aumento das tensões entre a Igreja e o governo mexicano, então presidido por Álvaro Obregón. Durante seu mandato presidencial, ocorreram violentos confrontos entre o CROM, sindicato próximo ao governo, e a Ação Católica da Juventude Mexicana.

No início de 1923, o delegado do Vaticano foi abençoar o local onde seria erguido um monumento ao Cristo Rei. O governo achou que era um desafio à sua autoridade e à Constituição e ordenou a expulsão do clérigo.

O confronto continuou entre 1925 e 1926. Em poucos meses, 183 padres de origem estrangeira tiveram que deixar o México e 74 conventos foram fechados.

Governo de Plutarco Elías Calles

A chegada à presidência de Plutarco Elías Calles fez com que as relações entre a Igreja e o Estado se agravassem ainda mais. O novo presidente desconfiava dos católicos, pois acreditava que sua primeira lealdade seria para com o Vaticano.

Uma das medidas mais polêmicas foi a criação da Igreja Católica Apostólica Mexicana, com o apoio do CROM. Esta nova instituição seguiu a mesma doutrina, mas sem reconhecer o Papa como a autoridade máxima. O padre Joaquín Pérez se autoproclamou patriarca desta nova Igreja.

ICAM tentou confiscar o Templo da Solidão, mas uma multidão de crentes o impediu. Além disso, grupos foram organizados para proteger o restante dos templos.

O governador de Tabasco, por sua vez, promulgou uma lei que obrigava todos os padres a se casarem se quisessem continuar a oficiar missas. Em Tamaulipas, por outro lado, padres estrangeiros foram proibidos de conduzir cerimônias.

Diante disso, diversos movimentos católicos se uniram para fundar a Liga Nacional de Defesa da Liberdade Religiosa, em março de 1925. Apesar de não ser violento, o governo acabou banindo a associação.

Lei das Ruas

A publicação em um jornal de declarações do Arcebispo do México José Mora y del Rio, contrárias às leis aprovadas, provocou a ira do governo.

Calles reagiu ordenando a prisão do arcebispo e encarregando o Congresso de redigir uma nova lei que afetasse a Igreja.

O resultado foi a proclamação da chamada Lei Calles, que regulamentava o número de padres em cada templo, proibia padres estrangeiros e proibia a Igreja de participar da política. Da mesma forma, a lei reforçou o artigo constitucional que declarava que a educação deveria ser laica e estar nas mãos do Estado.

Causas da Guerra Cristero

A citada Lei Calles foi o estopim para a Guerra Cristero. As medidas aprovadas geraram rejeição de católicos e presbiterianos.

Deterioração das relações com a Igreja

As relações entre a Igreja e o Estado mexicano foram tensas desde a declaração de independência do país. Durante o século 19, isso resultou em várias leis que procuravam limitar o poder eclesiástico, incluindo aquela que reconhecia a liberdade de culto, em 1857.

A Constituição de 1917 continha outra série de artigos que reforçavam o laicismo do Estado e retiravam o poder da Igreja. Desde a sua promulgação até a eclosão da guerra, as relações foram piorando cada vez mais.

Constituição mexicana de 1917

A Igreja Católica, em geral, apoiou o governo de Porfirio Díaz. Isso, em troca, concedeu-lhe benefícios importantes. Por isso, os revolucionários identificaram a instituição religiosa como parte das classes privilegiadas e porfirianas que queriam lutar.

A Constituição de 1917 foi escrita após o triunfo da revolução. Nele, o México foi estabelecido como uma república federal, democrática e representativa. Além disso, a separação entre a Igreja e o Estado e o secularismo da nação foram garantidos.

Isso implicou que a Igreja perdeu sua preponderância na educação, a liberdade de culto foi confirmada, seus bens materiais foram regulamentados, a personalidade jurídica das ordens religiosas foi eliminada e sua participação na vida política foi vetada.

Todos esses artigos constitucionais foram aplicados de forma muito vaga por muitos anos. Foi Obregón e, principalmente, Calles, que passou a aplicá-los com rigor.

Promulgação da Lei das Ruas

Legalmente, a lei Calles era uma extensão do Código Penal publicado em julho de 1926. Continha uma série de instrumentos para controlar e limitar a participação da Igreja na vida pública.

O resultado na prática foi imediato: no dia da sua publicação, os cultos públicos foram suspensos e os templos passaram para as mãos da Junta de Vecinos.

A lei fez com que 42 templos fossem fechados em todo o país, além do fechamento de 73 conventos. 185 padres estrangeiros foram expulsos.

Além disso, os regulamentos limitavam o número de padres a um para cada seis mil habitantes. Todos estes clérigos foram obrigados a registar-se no seu município e a obter uma licença para o exercício da sua actividade.

Desenvolvimento

A Lei Calles gerou uma resposta rápida do Vaticano. A primeira medida foi pedir um boicote que paralisasse todas as atividades religiosas do país. Posteriormente, houve várias manifestações exigindo a revogação da lei. O presidente reafirmou sua decisão.

Ações de pressão

Depois de não conseguir atingir seu objetivo, a Igreja apoiou um boicote econômico contra o governo. Começou em 14 de julho de 1926 em alguns estados como Jalisco, Aguascalientes, Zacatecas ou Guanajuato, onde teve grande repercussão.

Com isso, os católicos nesses estados deixaram de ir a teatros e cinemas, além de não usar o transporte público. Alguns professores até deixaram seus postos.

O boicote, entretanto, fracassou em outubro do mesmo ano. Apesar do apoio de muitos católicos, os mais ricos não quiseram continuar, pois perderam dinheiro.

Por sua vez, o governo respondeu fechando mais igrejas e rejeitando a proposta de emenda à Constituição apresentada ao Congresso pelo episcopado em 22 de setembro.

Os cristeros

O fracasso dessas ações pacíficas levou à radicalização de grupos de católicos. Isso foi especialmente notável em Querétaro, Guanajuato, Aguascalientes, Jalisco, Nayarit, Michoacán e Colônia, bem como em áreas da Cidade do México e no Yucatán.

Os líderes desses grupos radicalizados mantiveram sua autonomia em relação aos bispos, embora a proximidade fosse evidente. Em janeiro de 1927, começaram a acumular armas e os primeiros guerrilheiros, quase todos compostos de camponeses, estavam prontos para agir. O lema principal dos chamados Cristeros foi Viva Cristo Rey!

Primeiras revoltas

No início de 1927, Jalisco era o foco principal dos católicos armados. Seu líder era René Capistrán Garza, que também chefiava a Associação Mexicana de Jovens Católicos. Um manifesto publicado no ano novo e intitulado "Para a nação" tornou-se o chamado à insurreição.

Nesse escrito, Garza afirmava que era chegada a hora da batalha e da vitória de Deus. Seus partidários se mudaram para o nordeste de Guadalajara, onde começaram a ocupar pequenas cidades.

Logo, essas rebeliões se espalharam por Jalisco, Guanajuato, Zacatecas e Michoacán. Posteriormente, ocorreram também em quase todo o centro do país.

Apesar de conseguir ocupar algumas aldeias, o exército recuperou o controle em pouco tempo. O conflito, portanto, nunca pareceu virar a favor de nenhum dos lados.

Protagonismo do campo mexicano

A grande maioria das ações armadas ocorreu nas áreas rurais do país, apesar de os líderes rebeldes virem das cidades.

Algumas estimativas indicam que, em 1927, os Cristeros eram 12.000, um número que aumentou para 20.000 dois anos depois.

Com algumas exceções, os bispos se distanciaram da luta armada e tentaram estabelecer negociações com o governo com a mediação dos Estados Unidos.

Enquanto isso, as revoltas continuaram. Em 23 de fevereiro de 1927, em San Francisco del Rincón (Guanajuato), a primeira vitória Cristero ocorreu em um confronto direto com o exército. No entanto, a tentativa de Cristero de roubar o dinheiro transportado em um trem em abril daquele ano quase acabou com a insurreição.

O ataque ao trem, liderado pelo Padre Vega, levou a um tiroteio no qual o irmão de Vega morreu. Ele ordenou que as carruagens fossem queimadas e 51 civis morreram nas chamas.

A opinião pública, uma vez conhecida a notícia, começou a se posicionar contra os Cristeros. No verão, a rebelião estava quase acabando.

Assassinato de Obregón

As eleições de 1928 tiveram Álvaro Obregón como candidato favorito. Este, ao contrário de Calles, estava disposto a encerrar o conflito e queria chegar a um acordo.

No entanto, um ataque de José de León Toral, um ativista católico, acabou com a vida de Obregón.

Novas ações armadas

Durante 1928 e 1929, os Cristeros retomaram a iniciativa. Em parte, isso foi ajudado por uma revolta do exército em Veracruz, que forçou o governo a dedicar seus esforços para suprimi-la.

As tropas de Cristero aproveitaram para atacar Guadalajara, mas foram derrotadas. Mais tarde, eles conseguiram tomar Morelos Tepatitlán, embora tenham sofrido a perda do Padre Vega.

Quando o governo sufocou a revolta militar em Veracruz, foi capaz de se concentrar em acabar com as tropas Cristero. Estes, liderados por Victoriano Ramírez "el Catorce", tentaram resistir, mas começaram a surgir confrontos internos. A captura de "el Catorce" e sua subsequente execução deixaram seu lado sem um líder claro.

Palestras

O novo presidente da república, Emilio Portes Gil, começou imediatamente a negociar a paz. Para isso contou com a mediação do embaixador americano.

Por parte da Igreja, as negociações foram conduzidas por Pascual Díaz Barreto, bispo de Tabasco. O próprio Portes Gil participou da reunião ocorrida em 21 de junho de 1929.

Todas as partes concordaram com a anistia para os rebeldes que quisessem se render. Da mesma forma, as casas paroquiais e episcopais seriam devolvidas à Igreja.

No entanto, parte da Igreja mexicana não concordou com esta solução. Além disso, a Liga Nacional para a Defesa da Liberdade Religiosa, de onde os Cristeros vieram, reclamou de sua participação limitada nas negociações. O resultado foi a ruptura entre os bispos e a Liga e a tentativa desta de controlar as atividades dos católicos do país.

Desta forma, nem a Liga nem a maioria das tropas Cristero aceitaram o acordo. Apenas 14.000 membros de suas tropas aceitaram a anistia.

Fim da guerra

As pressões dos norte-americanos levaram Portes Gil a anunciar que a Igreja se submeteria à atual Constituição, sem que fossem necessárias modificações.

Os historiadores descreveram as relações Igreja-Estado a partir de então como "relações nicodêmicas". Isso significa que o Estado desistiu de aplicar a lei e a Igreja deixou de exigir direitos.

Consequências

A primeira consequência da Guerra Cristero foram as mais de 250.000 mortes que ela produziu, entre civis e militares.

Restauração de serviços religiosos

Uma vez que o governo mexicano, presidido por Portes Gil, e a Igreja Católica estabeleceram as chamadas "relações nicodêmicas", o conflito diminuiu de intensidade.

A Igreja aceitou que nenhum de seus membros, exceto o arcebispo, fizesse declarações sobre a política do país. Embora a Constituição não tenha sido modificada, os serviços religiosos foram retomados e a limitação do número de padres foi removida, bem como a licença necessária para oficiar.

Movimentos populacionais

Como em qualquer conflito bélico, a Guerra Cristero provocou muitos movimentos populacionais.

Essas migrações foram internas, com muitos mexicanos fugindo das áreas rurais para as cidades, e externas. Nesse último aspecto, estima-se que mais de um milhão de pessoas se mudaram para os Estados Unidos.

Por outro lado, após as negociações de paz, a Igreja excomungou muitos dos católicos que não quiseram depor as armas.

Criação do movimento político Sinarquista do México

Como foi apontado, nem todos os católicos aceitaram o estabelecimento de "relações nicodêmicas" com o Estado. Destes setores de descontentamento nasceu um movimento radical, especialmente em Guanajuato, Michoacán, Querétaro e Jalisco.

Este grupo tentou continuar a luta Cristero, embora de forma pacífica. Em maio de 1937, esse movimento levou à criação da União Nacional Sinarquista, uma organização com uma ideologia que unia o catolicismo, o anticomunismo, o nacionalismo e o fascismo.

Principais personagens

Plutarco Elías Calles

Plutarco Elías Calles foi uma das figuras políticas mais importantes do México pós-revolucionário. Não só foi presidente do país entre 1924 e 1928, mas sua influência nos governos seguintes foi tão importante que deu seu nome ao período conhecido como Maximato, pois Calles se autoproclamou Chefe Máximo da Revolução.

A aprovação da Lei Calles foi a causa final do início da Guerra Cristerra, pois reforçou os artigos constitucionais que reduziram o poder da Igreja.

Emilio Portes Gil

O assassinato de Álvaro Obregón fez com que, em 1928, a presidência do país caísse nas mãos de Emilio Portes Gil.

Embora seu mandato esteja enquadrado no Maximato, historiadores apontam que Portes não tinha interesse em continuar a guerra contra os Cristeros. Foi ele quem organizou e conduziu as negociações de paz com os representantes da Igreja.

Enrique Gorostieta Velarde

Gorostieta Velarde adquiriu experiência militar durante a revolução. Mais tarde, ele teve alguns confrontos políticos com Obregón e Calles. Isso foi usado pela Liga Nacional para a Defesa da Liberdade Religiosa (LNDLR) para contratá-lo para liderar suas tropas.

O militar foi assassinado em Jalisco apenas 20 dias antes da assinatura dos acordos de paz. Segundo alguns autores, o governo organizou a emboscada que acabou com sua vida, já que Gorostieta era contra as negociações que estavam ocorrendo.

Bispo José Mora y del Río

José Mora y del Río foi bispo da Cidade do México durante o período cristão. Ao lado do bispo de Tabasco, Pascual Díaz Barreto, foi um dos protagonistas das negociações de paz.

Victoriano Ramírez López, «el Catorce»

Um dos líderes militares cristeros mais importantes foi Victoriano Ramírez López, conhecido como “el Catorce”.

Este soldado juntou-se às fileiras Cristero desde o primeiro momento e foi um dos poucos que permaneceram na luta depois de maio de 1927. Seu pelotão se chamava "Dragones del Catorce" e se destacava por sua forte resistência ao exército governamental.

"El Catorce" morreu nas mãos de outros Cristeros, pois apresentava muitas discrepâncias com generais como Gorostieta Velarde.

Referências

  1. Cisneros, Stefany. Guerra Cristero no México; personagens, causas e consequências. Obtido em mexicodesconocido.com.mx
  2. Suarez, Karina. Leigos mexicanos contra religiosos mexicanos: 90 anos após o fim da Guerra Cristerra. Obtido em elpais.com
  3. EcuRed. Guerra Cristero. Obtido em ecured.cu
  4. Garcia, Elizabeth e McKinley, Mike. História da Cristiada. Obtido em laits.utexas.edu
  5. Atlas mundial. O que foi a Guerra Cristero? Obtido em worldatlas.com
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  7. Enciclopédia de História e Cultura da América Latina. Rebelião Cristero. Obtido em encyclopedia.com