O que é um fetiche? Características e ligações com psicopatologia - Psicologia - 2023


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O que é um fetiche? Características e ligações com psicopatologia - Psicologia
O que é um fetiche? Características e ligações com psicopatologia - Psicologia

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A palavra fetiche pode referir-se, do ponto de vista antropológico, a amuletos e elementos típicos de um determinado tipo de culto tribal ou, do ponto de vista psicológico, à relativa obsessão por determinado objeto, especialmente de forma sexual.

Esta última definição é a que desenvolveremos posteriormente ao longo deste artigo, além de compreender se o fetichismo é ou não um distúrbio psicológico. Vamos descobrir mais profundamente o que é um fetiche.

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O que é um fetiche em psicologia?

Em seu sentido mais geral, um fetiche é entendido como um objeto material de adoração ao qual são concedidas propriedades mágicas e sobrenaturais, que pode ser venerado como um ídolo. Esses tipos de objetos são usados ​​em muitas tribos e civilizações antigas e sua idolatria tem sido o pilar fundador de muitas religiões modernas. A idolatria fetichista é universal, aparecendo em muitas partes diferentes do mundo.


Porém, A definição de que trataremos não tem a ver com essa concepção antropológica do que é um fetiche, mas sua definição mais de um tipo psicológico.. Especificamente, no campo da psicologia da sexualidade, entendemos como fetiche um objeto ou parte do corpo que inspira algum tipo de atração sexual por alguém, embora esse elemento normalmente não tenha nenhum significado sexual em nossa espécie.

A palavra “fetiche” vem do latim “facticius”, que significa artificial e inventado, referindo-se ao fato de que o significado que lhe é atribuído é totalmente subjetivo, seja ele cultural ou sexual. A palavra teria evoluído para "feitiço", palavra usada pelos marinheiros portugueses para se referir a objetos de culto que eram encontrados em suas viagens, de fascínio obsessivo. Essa mesma palavra evoluiu para "fetiche" em francês, de onde vem "fetiche", adquirindo a definição que acabamos de ver.

O fetiche sexual

As origens da palavra "fetiche", usada com conotação sexual na psicologia, são encontradas em a teoria psicanalítica de Sigmund Freud. Foi ele mesmo quem lhe deu a definição de atração sexual anômala por um objeto ou parte do corpo que pouco tem a ver com a função reprodutiva. Entre esses objetos e situações sem função claramente reprodutiva, mas que ativam uma resposta sexual, teríamos saltos altos, arreios BDSM, roupas de couro, lingerie, chicotes, correntes, pés, axilas ...


Uma situação ou ação específica também pode ser um fetiche. Existem pessoas que têm um verdadeiro fetiche por pessoas que fumam, se vestem com roupas executivas ou andam de determinada maneira. O interesse sexual de ser acariciado, amarrado, espancado, amordaçado ou humilhado (práticas de BDSM) ou mijado (mijando) também estaria dentro do fetiche. Esses fetichismos são mais intensos do que aqueles diretamente relacionados a um tipo de objeto, e não são poucas as comunidades de pessoas que procuram parceiros sexuais com quem praticá-los.

Entre os objetos que não seriam considerados fetiches sexuais, teríamos objetos destinados à estimulação sexual, como vibradores. Esses dispositivos, embora não sejam "naturais", são projetados especificamente para despertar a excitação sexual. Fazem isso não porque a pessoa sente que produzem algum tipo de atração, mas porque, quando colocadas nos genitais, produzem estimulação física naquele mesmo lugar como se fossem os órgãos genitais de outra pessoa.



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Teorias sobre fetichismo

O sexo desperta muito interesse e, se falarmos de sexo que foge do padrão social, ainda mais. Por isso, não é de estranhar que inúmeras teorias tenham sido levantadas para explicar o fetichismo, além de debater se é ou não um transtorno. A seguir vamos descobrir as duas teorias mais relevantes sobre este tipo de comportamento sexual.

Teoria psicanalítica

Freud foi um dos primeiros psicólogos a abordar psicologicamente o fetichismo sexual. No caso dele, ele falava de um comportamento sexual que era ativado na presença de um objeto ou elemento que, a princípio, não deveria ter significado sexual objetivamente falando, mas que o fetichista atribuía a ele.

Para a psicanálise, o fetiche é uma manifestação perversa, considerando-o o núcleo e lugar comum de todas as demais parafilias.


Segundo essa corrente, fetichismo é a forma como se manifestam os problemas que o sujeito tem com as normas sociais, principalmente quando essas normas são muito rígidas. Isso pode estar relacionado à época que Freud viveu, já que no final do século 19 (era vitoriana) havia muita repressão sexual.

Essa repressão fez com que as pessoas quase não tivessem liberdade sexual, fazendo com que o mais íntimo desenvolva as fantasias mais obscuras e indizíveis. Quanto maior a repressão sexual, mais intenso será o fetichismo. É nessa época que as pessoas começam a falar sobre comportamentos como voyeurismo, sadomasoquismo ou travesti.

Para outros psicanalistas, como seria o caso de Piera Aulagnier, o fetichismo seria um estado de fronteira entre a neurose e a psicose. Uma vez superada essa barreira, o indivíduo entraria diretamente no mundo da psicose e, portanto, de psicopatologia alucinatória, como a esquizofrenia.


Teoria do condicionamento

A psicanálise é muito interessante, mas já perdeu muito peso no campo científico. Por isso, foi necessário propor outras teorias que explicassem por que existe o fetichismo, e entre elas temos propostas comportamentais, além de estarem amparadas por figuras clássicas como a do psiquiatra Richard von Krafft-Ebing ou do psicólogo Alfred. Binet.

A teoria do condicionamento explica que o fetichismo é o resultado de um condicionamento durante a infância do sujeito fetichista. A origem de sua fixação sexual por um objeto ou parte do corpo se deve a uma circunstância casual ocorrida durante o processo de aprendizagem sexual e autoconhecimento. Quando o objeto fetichista e a exploração sexual coincidem, a pessoa associa o prazer a esse objeto.

Essa relação se estabeleceria até a idade adulta, transformada em um interesse sexual muito forte pelo objeto e se tornaria um elemento importante durante a relação sexual ou qualquer relação sexual. No caso de o fetiche não estar presente durante a relação sexual, é bem provável que a resposta sexual não ocorra.

Fetichismo, bom ou mau?

Um debate muito difundido é se o fetichismo sexual é uma coisa boa ou má, isto é, se envolve ou não um transtorno psicopatológico. Como qualquer outra parafilia, o fetichismo não é considerado um transtorno ou problema psicológico, desde que não faça mal a outras pessoas nem implique deterioração cognitiva, social, laboral e emocional da pessoa.

O fetichismo tem sido tradicionalmente visto como uma desordem, entendida como a atração sexual anômala por determinado objeto ou elemento. A lógica por trás dessa ideia é que, como vai fora da norma, deve, por necessidade, ser patológica. Porém, essa ideia foi superada e, de fato, considera-se que é normal que as pessoas tenham algum tipo de fetichismo. Qualquer pessoa pode ter um certo grau de excitação fetichista, saindo do que seria considerado sexo "normal", sem ter um distúrbio fetichista.

Não há nada de estranho ou extravagante em ter um fetiche, e é algo que não deve embaraçar ninguém de acordo com os especialistas, nem deve ser mantido escondido do parceiro. Na verdade, os fetiches, bem usados, permitem que você saia da monotonia do sexo. Realizar as mesmas práticas sexuais repetidamente com seu parceiro pode acabar deixando-o para baixo, algo que pode até acabar com ela no longo prazo. Cumprir esses tipos de pequenas perversões é algo necessário para que o casal se sinta satisfeito.

Fetichismo será considerado um transtorno se a pessoa for completamente dependente de seu fetiche para ter uma resposta sexual. Por exemplo, uma pessoa que tem um fetichismo com salto alto, se ela só fica excitada pela presença desse tipo de calçado sem olhar para quem o calça, ela tem um problema. Só poder fazer sexo antes de ter o objeto em questão próximo limita muito a experiência sexual, fazendo com que a pessoa precise de condições muito específicas para poder ficar excitada.