Introspecção: o que é e como é usado em psicologia? - Psicologia - 2023
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Contente
- Introspecção em psicologia
- História da introspecção científica
- Introspecção na psicologia de nossos dias
- Terapia baseada em mentalização
- Atenção plena
- Reestruturação cognitiva
Apesar da crença generalizada de que todo progresso em nossa vida depende de um olhar para o exterior, assumindo projetos e iniciativas, a verdade é que olhar para dentro é necessário para o desenvolvimento pessoal.
Todo ser humano é composto de pensamentos e emoções que abrigam uma natureza íntima, e cuja descoberta requer coragem para mergulhar nos bastidores do teatro das aparências.
Assim, a introspecção tem sido objeto de estudo desde o próprio nascimento da Psicologia, impondo-se como um método incontornável de acesso aos processos internos que regem os afetos e o comportamento.
Neste artigo Vamos definir o conceito de introspecção em psicologia, traçando uma descrição de sua trajetória histórica e os benefícios terapêuticos derivados de seu uso.
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Introspecção em psicologia
A quebra etimológica do termo "introspecção", que vem do latim, sugere uma observação que se afasta do curso externo dos acontecimentos para se estabelecer na forma como são percebidos, bem como nas sutis nuances de emoção que daí advêm. de todo este processo. Envolve uma pausa deliberada no fluxo natural do que acontece do lado de fora, a fim de fortalecer a consciência de eventos internos que muitas vezes passam despercebidos.
Como método de análise do ato humano, é indissociável do processo pelo qual a Psicologia se emancipou da Filosofia, que se baseia na reflexão cuidadosa da realidade para subtrair a verdade que está por trás dela. Assim, foram debatidos os primeiros passos desta disciplina, abrindo caminho para as trevas interiores à luz da subjetividade. Supunha-se, portanto, que a pessoa constituía tanto o fim quanto o método de seu campo de conhecimento.
A chegada de correntes positivas na ciência foi um grande ponto de viragemPartindo do pressuposto de que as disciplinas naturais e humanas deviam acomodar a objetividade da física ou da química, se pretendessem criar um corpo de conhecimento digno de ser incorporado ao patrimônio científico. Nesse contexto epistemológico, a Psicologia precisava refazer o caminho e avançar no caminho do tangível.
Nesse mesmo sentido, a primeira metade do século XX foi dominada pelo behaviorismo como paradigma quase único, centrando o objeto de estudo nos atos que o ser humano manifestava em seu ambiente natural. O comportamento manifesto tornou-se a unidade básica de conhecimento, e todos os esforços foram direcionados para explorar aqueles fatores que promoveram seu início ou sua manutenção, bem como as contingências sobre o assunto que deles poderiam derivar.
Após muitas décadas de empirismo sólido, a segunda metade do século 20 testemunhou o nascimento da psicologia cognitiva. Este reivindicou a relevância dos pensamentos e emoções como fenômenos dignos de estudo, complementando com a sua inclusão a equação mecanicista proposta pelo behaviorismo original (e que está longe das concepções atuais desta mesma linha de pensamento).
Neste contexto histórico, a introspecção foi mais uma vez considerada como um recurso de trabalho clínico e de investigação, articulando uma sucessão de metodologias estruturadas através das quais cada indivíduo pode assumir o papel de um observador ativo de seus próprios processos internos, capturando realidades cujas idiossincrasias não foram totalmente resolvidas sob a proteção de análises objetivas do comportamento.
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História da introspecção científica
Os primeiros usos da introspecção como método no campo da psicologia ocorreram na cidade de Leipzig (na Alemanha Oriental), e mais especificamente nas mãos de Wilhelm Wundt e seu Laboratório de Psicologia Experimental. O propósito deste autor, no final do século XIX, estava no estudo da experiência imediata (processos internos conscientes do ser humano em sua reação ao meio), em oposição à mediata (que consistiria na medição objetiva de estímulos, dependente da física).
Nesse sentido, a introspecção era a única ferramenta válida para o estudo dos fenômenos que dependiam da Psicologia. Mesmo com tudo, isso foi enriquecido com o uso das tecnologias da época, por meio das quais se avaliava o tempo de reação ou a associação lexical e se impunha certo controle à apresentação do estímulo experimental, inclusive medidas eletrofisiológicas das quais infere (em da forma mais objetiva possível) os processos internos.
Outro autor fundamental, que se valeu do método introspectivo da fenomenologia, foi Franz Brentano. Este teria um interesse particular em estudar o pensamento do ser humano, por isso optaria por a análise dos processos internos que são acionados na resolução de um problema. Segundo Brentano, o que diferenciaria os fenômenos psicológicos dos puramente físicos seria a intencionalidade dos primeiros.
Como Wundt, ele separaria a Física da Psicologia ao aludir às nuances da percepção humana. A maior parte da atividade da corrente fenomenológica seria realizada na escola de Würzburg (Baviera, Alemanha), especificamente através do método de introspecção retrospectiva. Nisso, o sujeito experimental tinha que lembrar a posteriori quais processos de ordem superior ele precisava para resolver uma situação complexa, altamente estruturada e replicável.
Introspecção na psicologia de nossos dias
A introspecção continua a ser um objeto de interesse na psicologia moderna. Assim, existem abordagens terapêuticas que a utilizam (direta ou indiretamente) como método de avaliação e / ou intervenção; alguns exemplos são terapia baseada em mentalização, atenção plena (atenção plena ou consciente) e reestruturação cognitiva.
A seguir avaliaremos o uso que fazem da introspecção em cada um desses casos, considerando que em alguns deles costuma ser complementada pela utilização de outros métodos de análise mais objetivos.
Terapia baseada em mentalização
A terapia baseada na mentalização é um procedimento judicial psicodinâmico, que foi originalmente concebido para tratar de problemas graves de saúde mental, como transtorno de personalidade limítrofe (TPB) ou esquizofrenia. Apesar de se estender a várias regiões do mundo, não é uma estratégia difundida nos países de língua espanhola, de modo que os manuais originais sobre o assunto (publicados no início do século) não foram traduzidos para esse idioma.
A terapia baseada na mentalização envolve enfatizar a importância de todos os processos internos ao explicar o comportamento. Por meio da técnica, o objetivo é que a pessoa interprete todos os atos alheios de acordo com processos como pensamentos e emoções, o que permite prever as reações dos outros e atribuir um menor peso de culpa às situações interpessoais em que haja ressentimento.
O modelo entende que, para controlar os sintomas associados a esses transtornos; a pessoa deve fortalecer sua autoconsciência (ou a si mesmo) para identificar, administrar e expressar afetos de forma mais adequada; visto que seria possível que a metacognição nestes se diluísse em momentos de alta tensão relacional. Portanto, supõe uma autoconsciência voltada para a compreensão do que acontece dentro para melhorar o que acontece fora.
Os autores originais deste procedimento (Bateman e Fonagy) localizam as dificuldades internas desses pacientes no desenvolvimento de um apego inseguro durante a infância, o que dificultaria a aquisição das competências básicas para o manejo da emoção e do comportamento. Apesar disso, consideram que podem se desenvolver na vida adulta por meio de um esforço deliberado e intencional, visando compreender as fontes da experiência.
Atenção plena
Mindfulness é uma forma de meditação que vem das tradições budistas. Foi despojado de seus tons religiosos para sua adaptação ao contexto ocidental, primeiro como uma terapia para o controle da dor (formulada por Jon Kabat-Zinn). Hoje, no entanto, ele tem muitas aplicações terapêuticas diferentes.
Entre as suas premissas, destaca-se a atenção integral não só às situações que nos rodeiam, mas também aos próprios processos internos.Nesse sentido, busca deliberadamente o que passou a ser conhecido como "mente testemunha", por meio da qual uma profunda consciência do discurso interno é assumida de forma que o indivíduo se desligue de qualquer tentativa de se identificar com ele. Assim, a pessoa não seria uma emoção ou um pensamento, mas um ser senciente e consciente que pensa e fica animado.
Reestruturação cognitiva
A reestruturação cognitiva persegue uma série de objetivos que envolvem o recurso da introspecção.
Em primeiro lugar, visa que o paciente compreenda o papel fundamental do que pensa sobre o que sente e faz. Segundo, encontre a detecção de padrões desadaptativos e distorções cognitivas que estão associados à experiência de desconforto. Por fim, busca a implantação de uma atitude crítica voltada para a modificação do pensamento para um pensamento mais objetivo e racional.
O desenvolvimento de todo este processo implica a utilização de autorregistro no papel, com espaços reservados às variáveis relevantes (situação, pensamento, emoção e comportamento), e que se completam após a ocorrência de um acontecimento que desencadeia desconforto afetivo (tristeza, medo, etc.). É uma forma de introspecção retrospectiva, através da qual aumenta o nível de consciência sobre os processos internos sujeitos a um alto grau de automação.
A prática de estratégias de reestruturação cognitiva fornece o contexto ideal para o autoconhecimento, bem como pela descoberta das causas de nosso desconforto, além das situações que nos correspondem viver. Portanto, supõe uma abordagem ao domínio do cognitivo, uma forma de introspecção que nos permite adquirir o controle da vida emocional por meio do processo de interpretação das coisas que nos acontecem.